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Os cuidados com a vida são inerentes ao ser humano e, por isso, sempre estiveram presentes ao longo da sua evoluç-ão. Também sempre houve pessoas que praticaram cuidados numa dimensão profissional, com múltiplas manifestações condicionadas pelo progresso do conhecimento e pelas mu-danças sociais e culturais. O resultado de séculos de evolução na atividade cuidadora é o que hoje se reconhece como Enfermagem, uma disciplina complexa e dinâmica com grande capacidade de contribuir com soluções para o bem-estar das pessoas. Partilhamos a Declaração de Granada de 2012, ao considerar que o conhecimento da Enfermagem, construído ao longo de séculos de evolução da prática profissional de cuidados, é o principal legado que a Enfermagem, enquanto ciência, dá à Humanidade.
Os participantes no III Encontro Internacional de História e Pensamento da Enfermagem, realizada no Mosteiro de Oseira (Ourense, Espanha), em 14 e 15 de Julho 2017, juntamente com outros professores e investigadores que partilharam posteriormente os debates e conclusões desse encontro, concordam em subscrever a presente Declaração para enfatizar a necessidade de construir e difundir uma história da Enfermagem isenta de distorções, construída com rigor científico e para que nela se revelem os valores que hoje assumimos como universais e inatos à natureza humana, tais como o reconhecimento da dignidade humana, o compromisso com a equidade, a convivência com a diversidade ou a igualdade entre homens e mulheres.
Por tudo isto, consideramos do maior interesse assinar o seguinte Decálogo sobre o papel da história da Enfermagem no tempo presente e a necessidade de a dignificar como uma disciplina com potencial educativo insubstituível.
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1. O Grupo Oseira foi constituído pelas seguintes pessoas: Manuel Amezcua, María Elena González Iglesias, Claudia Celia Alvarez Franco, Isabel Antón Solanas, Carmen Domínguez Alcón, Juan Diego González Sanz, Antonio Jesús Marín Paz, Paloma Moral de Calatrava, Ana Belén Rodríguez Feijóo, Gloria Elena Lastre Amell, Carlos Louzada Lopes Subtil, María Dolores Ruiz Berdún e Francisco Ventosa Esquinaldo.
1. Quando consideramos a Enfermagem enquanto prática de cuidados ao ser humano em situação de saúde ou doença, referimo-nos a um sistema de prática de cuidados de caracter profissional, independentemente da forma como se expressou ao longo de sua história, das condições sociais em que se desenvolveu e da diversidade de denominações que receberam as mulheres e os homens que a exerceram. Sendo assim, a Enfermagem reconhece a legitimidade de outras formas de cuidados, sejam domésticos ou de outro tipo, desde que respeitem os valores do que consideramos bom, ética e moralmente.
2. A História contribui de forma efetiva para consolidar a identidade profissional pois clarifica os princípios e os valores universais com que as enfermeiras e os enfermeiros têm exercido o seu compromisso com a sociedade, ao longo dos tempos. Portanto, consideramos que a História da Enfermagem deve constituir-se como disciplina obrigatória nos planos de estudo de todas as universidades e centros em que se lecione o curso de enfermagem.
3. Para que a História da Enfermagem cumpra a sua função pedagógica, é necessário que os investigadores nesta área, independentemente da sua formação original, adotem metodo-logias rigorosas com base em fontes primárias sólidas, adotem perspetivas teóricas e historiográficas que favoreçam análises rigorosas e interpretações precisas do impacto que a Enfermagem, as suas instituições e os seus profissionais tiveram nos diferentes contextos em que desenvolveram as suas práticas.
4. As enfermeiras e os enfermeiros têm demonstrado, ao longo de sua longa história, que colocaram o seu compromisso com as necessidades das pessoas acima dos seus interesses profissionais e que o fizeram sob a influência de uma forte liderança de mulheres e homens que, na sua maioria, não tiveram o legítimo reconhecimento histórico, sendo imprescindível resgatá-los para a História da Enfermagem, possibilitando que sejam reconhecidos pelas novas gerações.
5. Historicamente, a Enfermagem foi-se construído combinando o compromisso com a desigualdade e a fragilidade humana com a incorporação de saberes científicos que estão explicitados em vários manuais técnicos e educativos elaborados por enfermeiros, mesmo antes do advento da imprensa. Consideramos da maior importância a sua recuperação e estudo detalhado para tornar possível conhecer a evolução da Enfermagem como disciplina científica e social.
6. É necessário reivindicar a importância do hospital como instituição cuidadora por excelência, como um palco multi-funcional onde se desenvolveu a criatividade e as inovações que permitiram a evolução da Enfermagem enquanto profissão e ciência. Nesse sentido, apelamos aos historiadores para que, na perspetiva da Enfermagem, incrementem a exploração de fontes arquivísticas de instituições que ainda não foram suficientemente utilizadas e que proporcionam conhecimentos concretos e contextualizados que é necessário por em relevo.
7. Sabemos que se pode causar muitos prejuízos à Enferma-gem quando se ensina ou divulga uma história cheia de dis-torções, omissões e falácias que, muitas vezes, são o resultado da especulação, da ignorância ou de interesses ideológicos pelo que recomendamos ao corpo docente que, a partir da academia, redobrem os seus esforços para as evitar e realizem uma pedagogia sustentada em fontes rigorosas e credíveis.
8. Enquanto objeto de ensino, a História da Enfermagem pode transformar-se numa matéria enfadonha e sem interesse se não se utilizarem as suas potencialidades pedagógicas para a tornar atrativa para os alunos. Por isso, apelamos ao empenho dos professores para utilizarem estratégias de ensino inovadoras, incluindo metodologias participativas, que permitam aos alunos compreender o verdadeiro significado dos eventos mais significativos do passado da nossa profissão e o seu contributo para o progresso da Humanidade.
9. Apelamos para a responsabilidade das sociedades científi-cas especializadas em História da Enfermagem no sentido de garantir que as atividades de investigação e a sua divulgação sejam feitas com rigor, desenvolvendo iniciativas para aumentar a profissionalização de investigadores e editores nesta área.
10. Tão importante é a investigação e o ensino da História da Enfermagem como é a divulgação cívica dos grandes marcos que tornaram possível a profissão que hoje exercemos. Por isso, consideramos que devemos usar todos os meios à nossa disposição, incluindo jornadas, plataformas web, exposições temáticas, etc., para socializar o contributo que as enfermeiras e os enfermeiros têm vindo a dar aos cuidados com a vida e os valores que sustentam uma das profissões com maior compromisso ético.
Se você concorda com o conteúdo da Declaração, você pode assiná-lo, incluindo na seção de comentários o seu nome e sobrenome, instituição, cidade e país. Você aparecerá na publicação definitiva do texto que publicaremos em breve na revista Temperamentvm.
Considero um documento muito importante para a Enfermagem e a sua História
Professora na Escola de Enfermagem do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica. Lisboa
Paulo Joaquim Pina Queirós. Escola Superior de Enfermagem de Coimbra. Investigador da UICISA:E: Projeto Estruturante de História e Epistemologia da Saúde e Enfermagem. Membro da SPHE.
Declaração que subscrevo e surge em boa hora. Conhecer o passado, com rigor, ajuda-nos a perceber o presente, os nossos constrangimentos e as nossas possibilidades. Perceber por exemplo, quão jovens somos.O processo de profissionalização, em Portugal, só terá reunido o pleno das características definidas pela sociologia /antropologia do trabalho na última década do século XX. O processo de diferenciação e afirmação disciplinar na academia, de pleno direito é algo em construção e desenvolvimento recente.
A História ajuda-nos a situar no fio cronológico, com a nossa identidade própria, no nosso tempo específico. Não esquecendo que as profissões e as ciências, como construções humanas, nascem, desenvolvem-se, configuram-se e reconfiguram-se , transformam-se, algumas perecem mais rapidamente outras vão-se diluindo. É a vida no esplendor da sua riqueza.
Sem a análise histórica, aquilo que objetivamente é (por exemplo, a nossa dificuldade na afirmação disciplinar), poderá parecer um atraso civilizacional enorme, quando na realidade estaremos em pontos de partida diferentes na comparação com outros saberes.
Sou Enfermeira no Hospital das Forças Armadas em Lisboa, Portugal.
Licenciada em História pela Universidade Nova de Lisboa.
Membro da Associação Nacional História de Enfermagem
Concordo plenamente.
Analisa Candeias
Universidade do Minho – Escola Superior de Enfermagem
Braga
Portugal